A Máquina do Mundo
E como eu palmilhasse vagamente
uma estrada de Minas, pedregosa,
e no fecho da tarde um sino rouco
se misturasse ao som de meus sapatos
que era pausado e seco; e aves pairassem
no céu de chumbo, e suas formas pretas
lentamente se fossem diluindo
na escuridão maior, vinda dos montes
e de meu próprio ser desenganado,
a máquina do mundo se entreabriu
para quem de a romper já se esquivava
e só de o ter pensado se carpia.
Abriu-se majestosa e circunspecta,
sem emitir um som que fosse impuro
nem um clarão maior que o tolerável
pelas pupilas gastas na inspeção
contínua e dolorosa do deserto,
e pela mente exausta de mentar
toda uma realidade que transcende
a própria imagem sua debuxada
no rosto do mistério, nos abismos.
Abriu-se em calma pura, e convidando
quantos sentidos e intuições restavam
a quem de os ter usado os já perdera
e nem desejaria recobrá-los,
se em vão e para sempre repetimos
os mesmos sem roteiro tristes périplos,
convidando-os a todos, em coorte,
a se aplicarem sobre o pasto inédito
da natureza mítica das coisas.
(Trecho de A Máquina do Mundo, de Carlos Drummond de Andrade).
Tem Tudo a ver
A poesia
tem tudo a ver
com tua dor e alegria,
com as cores, as formas, os cheiros,
os sabores e a musica do mundo.
A poesia
tem tudo a ver
com o sorriso da criança
o dialogo dos namorados a lagrima diante da morte
o olho pedindo pão.
A poesia
tem tudo a ver
com a plumagem, o vôou e o canto,
a veloz acrobacia dos peixes,
as cores todas do arco - irirs,
o ritmo dos rios e cachoeiras,
o brilho da lua, do sol, e das estrelas,
a esplosão em verde flores e frutos.
A poesia
- É só abrir os olhos e ve- Tem tudo a ver com tudo.
Autor Elias jose.